Pedidos de recuperação judicial de grandes empresas marcaram 2023 e devem continuar crescendo em 2024

Especialistas apontam que varejo, agro e serviços são os setores mais vulneráveis, o que pode impactar seguradoras.


O ano de 2023 foi um ano de recuperações judiciais emblemáticas e de grande impacto, como as de Americanas, Light, Oi, Grupo Petrópolis, 123milhas e SouthRock (controladora de marcas no Brasil como Starbucks, Eataly, TGI Fridays e Subway).

Apenas no caso de Americanas, o setor de seguros calcula que o risco segurado das apólices varia entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões.

Giulia Panhóca, advogada do escritório Ambiel Advogados e especialista em Direito Empresarial, afirma que 2023 foi tão expressivo do ponto de vista da recuperação judicial que até casos recentes com perdas maiores ficaram em segundo plano. "Com duas recuperações de grande porte de empresas do setor de comércio – e, portanto, com ampla visibilidade do público em geral – como Lojas Americanas e 123milhas, a repercussão desses casos foi até superior à de outras recuperações mais relevantes do ponto de vista de valores, como a do Grupo Odebrecht, por exemplo. Um aspecto importante em ambas as recuperações foram as suspeitas de que possivelmente houve fraude ou simulação por parte dos órgãos de administração das empresas que não informaram corretamente o nível de endividamento, gerando uma certa crise de confiança", explica.

Filipe Denki, especialista em Direito Empresarial e sócio do Lara Martins Advogados, prevê que o varejo deve ser novamente o setor que mais deve sofrer em 2024, mas que o agro também deve enfrentar dificuldades. "O varejo é sempre vulnerável a crises econômicas por causa das baixas margens de lucro, mas certamente podemos ter um grande crescimento nos pedidos de recuperação judicial no setor agrícola, que vem passando por problemas nos últimos anos com a alta dos preços dos insumos, baixo preço dos grãos, alto custo do crédito e agora com efeitos climáticos", analisa.

Dimithri Vargas, analista político e de mercado associado ao MGD Evidence Research, aponta um cenário crítico em 2024, que deverá afetar o setor de serviços, o agro e o varejo. "O Governo Federal não tem agido de forma a minimizar os impactos da crise econômica que afeta o Brasil, e sua gestão perdulária já começa a gerar impacto negativo em todos os setores, devido a incerteza de sua capacidade de pagamentos das contas do país, num momento de tendência a recessão, com clara redução no consumo das famílias, o que gerou uma artificial redução na inflação do longo de 2023, que não chegou as camadas mais sensíveis da população - os mais pobres e a classe média, uma vez que, conforme dados recentes divulgados pela CNI, cerca de metade de toda população brasileira teve que reduzir despesas e gastos, gerando a redução do consumo e da contratação de serviços, medida que deve se ampliar em 2024, com a tendência de arrocho salarial sendo mantida nas novas admissões trabalhistas, o que impactará diretamente o varejo, o setor de serviços e o agro, podendo a curto prazo, gerar novos pedidos de recuperação judicial e/ou falências de empresas, com consequentes perdas de empregos, novas reduções do consumo e agravamento do cenário econômico negativo a longo prazo," avaliou.

Giulia Panhóca acredita que os pedidos de recuperação não devem diminuir, pois as empresas ainda sofrem os efeitos da pandemia e da crise econômica global. "A preocupação em se proteger de possíveis inadimplentes é generalizada e as seguradoras devem se preparar para um aumento significativo tanto na procura de produtos de seguro de crédito e de D&O (que ajuda na defesa dos interesses pessoais dos executivos). Em relação a esse segundo, há uma questão adicional que decorre dos escândalos de casos como o das Lojas Americanas e 123milhas, já que as dúvidas levantadas sobre o cumprimento pelos membros dos órgãos de administração das empresas de seus deveres fiduciários podem levar a questionamentos por parte das seguradoras", pondera.



Matéria: Letícia Aguiar
Imagem: Karl Yukav (via Freepik)

 
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