Visita de Lula à Rússia contribui para perda de contrato bilionário da Embraer para a Airbus
Relação do presidente brasileiro com Moscou influencia decisão da LOT Polish Airlines, que optou por 40 jatos A220 da Airbus e planeja desfazer-se de sua frota Embraer
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Embraer E195-E2 já era operado pela LOT, mas será retirado da frota. (Imagem: Divulgação) |
A Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, enfrentou um revés significativo ao perder um contrato de US$ 2,7 bilhões para a Airbus, que fechou a venda de 40 jatos A220 para a LOT Polish Airlines, mais 44 opções de compra futuras, podendo totalizar 84 aeronaves e cerca de US$ 6 bilhões em faturamento para a fabricante francesa. O acordo, anunciado durante a Paris Air Show em 2025, foi fortemente influenciado por fatores geopolíticos, com destaque para a visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a Moscou em maio de 2025, onde participou das celebrações do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. A presença de Lula na Rússia, um país sob sanções da União Europeia, e sob duras críticas da Polônia devido à invasão da Ucrânia, foi apontada como um elemento que pesou contra a Embraer nas negociações, em um contexto onde alinhamentos políticos se mostraram tão cruciais quanto aspectos comerciais.
A LOT, principal companhia aérea da Polônia, rompeu com sua tradição de priorizar aeronaves da Embraer e da Boeing, optando pela Airbus em uma decisão que reflete não apenas interesses econômicos, mas também interesses diplomáticos. A cerimônia de assinatura do contrato, realizada na Paris Air Show, contou com a presença de altos representantes da Polônia, da França e do Canadá – onde o A220 é produzido –, incluindo o ministro dos Transportes francês, Philippe Tabarot, reforçando o peso político da escolha. A Embraer, em comunicado oficial, reconheceu o impacto da geopolítica, declarando: “Estamos vivendo um momento excepcional em que a geopolítica desempenha um papel importante nas decisões de negócios”. A empresa aérea destacou que manter sua frota atual teria garantido à LOT uma economia de “milhões de euros”, sugerindo que fatores não comerciais foram determinantes.
A visita de Lula à Rússia, segundo analistas do setor aeroespacial, gerou desconforto na Polônia, um país que mantém uma postura firme contra as ações de Vladimir Putin na Ucrânia. Esse contexto político pode ter enfraquecido a posição da Embraer, uma empresa brasileira, em relação à Airbus, que contou com forte apoio diplomático europeu. O CEO da LOT, Michal Fijol, evitou comentar diretamente as influências políticas, limitando-se a afirmar que a decisão foi desafiadora, mas que a Airbus demonstrou maior interesse no negócio. “Recebemos duas ofertas muito competitivas, mas a Airbus nos queria mais”, disse Fijol, sugerindo que a abordagem agressiva da concorrente europeia, combinada com o alinhamento político, pode ter selado o acordo.
A derrota da Embraer neste contrato evidencia como, no mercado global de aviação, decisões estratégicas frequentemente transcendem questões técnicas ou financeiras, sendo moldadas por dinâmicas políticas internacionais.