Mitos e verdades sobre a reabilitação pós-AVC

Cada dia conta e é essencial para garantir a boa recuperação após um derrame.


O acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como AVC, é a segunda causa de morte do mundo e, de acordo com a World Stroke Organization, são registrados por ano cerca de 13 milhões de novos casos de AVC no mundo.² Somente no Brasil, ocorrem mais de 400 mil casos por ano e 100 mil óbitos, segundo o Ministério da Saúde.³ Entretanto, apesar da letalidade da doença, é necessário prestarmos atenção também na grande parcela de pessoas que sobrevive ao episódio, conscientizando e informando sobre os vários recursos disponíveis para auxiliar esses pacientes no pós-AVC.

Estudos apontam que complicações motoras podem aparecer em 50% a 83% dos casos pós-AVC, problemas cognitivos em cerca de metades dos pacientes e distúrbios psicológicos em cerca de 20% deles.¹ "Mas, a boa notícia é que a medicina evoluiu e há uma série de recursos na área da fisiatria, neurologia, fisioterapia e fonoaudiologia que auxiliam o paciente na retomada de sua vida, lhe dando independência novamente e qualidade de vida", informa a médica Regina Chueire, fisiatra e Professora Adjunta da Faculdade de Medicina de São José de Rio Preto - Autarquia Estadual.

Para desvendar alguns mitos e verdades que permeiam o assunto, a médica elencou alguns temas que precisam ser desmistificados.


Não é possível se recuperar das sequelas de um AVC?

Mito: Após um AVC, algumas pessoas podem apresentar limitações em consequência do evento e a recuperação é diferente em cada caso. Entretanto, o tratamento médico imediato, associado à reabilitação adequada, pode minimizar as incapacidades, evitar as sequelas mais graves e proporcionar ao indivíduo o retorno mais breve possível às suas atividades diárias. (4) 


O tratamento pós-AVC é interdisciplinar e multiprofissional?

Verdade: A avaliação funcional é a base do tratamento das sequelas do AVC, mas no geral o tratamento é interdisciplinar e multiprofissional para trazer qualidade de vida para o paciente. O acompanhamento feito por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, neurologistas, fisiatras, e outros tipos de terapias como arteterapia ou musicoterapia, são medidas benéficas para os pacientes. (5)

"O programa de reabilitação deve conter objetivos gerais e específicos, traçados juntamente com o paciente e seus familiares. O número de sessões e o tempo vão ser estipulados em conjunto, tudo visando melhorar o bem estar e atingir ao máximo as expetativas do paciente", explica a Dra. Regina.


É preciso esperar dias para iniciar a reabilitação pós-AVC?

Mito: A reabilitação do paciente que sofreu um AVC se inicia ainda no hospital com o objetivo de prevenir retenção e acúmulo de secreções, escaras e contraturas articulares. Além disso, também são feitos exercícios respiratórios e outros ativos com o paciente sentado ou em pé. A fisioterapia também é necessária para manter ou ganhar amplitude de movimento, contraturas e deformidades e prevenir dores articulares.(6)

A fisioterapia feita ainda dentro do hospital é extremamente necessária, mas o paciente pós-AVC não deve deixar sua reabilitação de lado uma vez que recebe alta hospitalar. "Um dos pontos mais importantes na reabilitação pós-AVC é a avaliação completa de seu quadro e reavaliações periódicas para que se possa verificar efeitos do tratamento e evolução neuromotora conforme o tempo for passando" explica a médica.


Pacientes pós-AVC sofrem de espasticidade?

Verdade. A espasticidade é um distúrbio motor caracterizado pelo aumento do tônus muscular, provocando rigidez e dificuldade de movimentar a região afetada, além da dor. É semelhante à cãibra, com a diferença de ser constante. A espasticidade é comum em crianças com paralisia cerebral e em adultos após traumatismo crânio-encefálico e AVC.7 "A espasticidade está associada diretamente com a redução da capacidade funcional, limitação da amplitude do movimento articular, desencadeamento de dor e prejuízo nas tarefas diárias básicas como alimentação, locomoção, transferência e cuidados pessoais", acrescenta a médica.

O manejo da espasticidade é multifatorial e pode requerer tratamento medicamentoso com toxina botulínica A, além de não medicamentoso com manobras de manutenção da amplitude do movimento articular, treinos e órteses de posicionamento e até mesmo cirurgias. (7) 


A toxina botulínica A utilizada no tratamento da espasticidade é a mesma usada em procedimentos estéticos?

Verdade. Não existe diferença na composição da toxina botulínica A usada para procedimentos estéticos e para o tratamento da espasticidade, o que muda realmente é a finalidade do procedimento. Enquanto na dermatologia o medicamento é utilizado para amenizar linhas de expressão e rugas profundas, na reabilitação pós-AVC a aplicação da toxina botulínica A no músculo atingido pode melhorar a capacidade funcional de locomoção, transferência e atividades de vida diária, prevenir contratura e deformidades, diminuir a dor e a frequência e severidade dos espasmos. (7, 8) 


Mudanças de humor são comuns em pacientes em reabilitação?

Verdade. Cerca de um terço das pessoas que sofreram um AVC apresentam alterações de humor como depressão e ansiedade.9 Por isso, é importante ficar atento às mudanças que podem vir durante a reabilitação de um AVC e buscar ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras. Com esse cenário apresentado, fica fácil entender o motivo da reabilitação ser tão importante na vida pós-AVC. Muito além de necessitar de atendimento rápido após os primeiros sinais de que o acidente vascular cerebral está acontecendo, é necessário também entender como funcionará a reabilitação após a alta hospitalar para que o paciente consiga aumentar sua qualidade de vida e recuperar sua autonomia. Cada caso deve ser analisado junto ao médico especialista e seguido rigorosamente para a os melhores resultados.


Referências

1. Toward an epidemiology of post stroke spasticity, Neurology, Jörg Wissel, MD, FRCP, Aubrey Manack, PhD and Michael Brainin, MD, 2013.
2. Organização Pan-Americana de Saúde. 10 principais causas de morte no mundo. Organização Pan-Americana de Saúde. Disponível em [http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5638:10-principais-causas-de-morte-no-mundo&Itemid=0].
3. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à Reabilitação da Pessoa com Acidente Vascular Cerebral. Disponível em [http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_acidente_vascular_cerebral.pdf]
4. Rede Reab AVC. Disponível em [http://www.reabavc.com.br/reabilitacao/reabilitacao-pos-avc-e-terapia-ocupacional]
5. Piassaroli CAP et al. Modelo de Reabilitação Fisioterápica em Pacientes Adultos com Sequelas de AVC Isquêmico. Revista Neurociências 2012 Volume 20. 128-137. Disponível em [http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2012/RN2001/revisao%2020%2001/634%20revisao.pdf]
6. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Espasticidade. Disponível em [http://www.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-espasticidade-livro-2009.pdf]
7. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Disponível em [http://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/procedimentos/toxina-botulinica-tipo-a/13/]
8. Hacket ML et al. Neuropsychiatric outcomes of stroke. Lancet Neurology 2014 Volume 13, No. 5, p525-534


Matéria: Ipsen com BCW Global
Imagem: Hush Naidoo (via Unsplash)

    
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